DO PENSAMENTO OFICIAL A ALGUMAS LINHAS DE FRATURA, SOBRE A GUERRA DA UCRÂNIA – UMA SÉRIE DE TEXTOS – V – PRISIONEIRO DA DÉCADA DE 1930 – A PALAVRA F (A OUTRA), por ANDREW BACEVICH

 

 

Andrew Bacevich, Trapped in the 1930s

TomDispatch, 7 de Junho de 2022

Andrew Bacevich, Trapped in the 1930s

A palavra F (A Outra), por ANDREW BACEVICH

Selecção, montagem e tradução por Júlio Marques Mota

Revisão de João Machado

 

Sejamos realistas, estamos num planeta diferente, mesmo que não o saiba tendo vivido a maior parte do seu tempo  aqui nos Estados Unidos.  Depois do fim da velha Guerra Fria, verificou-se que não era tão fácil quanto os nossos líderes imaginavam ser a “única superpotência”, “a nação indispensável” no Planeta Terra. E podemos ver os resultados disso mesmo agora, quando tantos dos que estão em Washington anseiam por estar num globo totalmente ultrapassado, como Andrew Bacevich em TomDispatch nos sugere hoje.  Os nossos líderes parecem sentir-se confortáveis opondo-se aos russos como se ainda estivéssemos na Guerra Fria ou aos “fascistas” como se estivéssemos na Segunda Guerra Mundial (tal como Vladimir Putin que afirmou desde os primeiros momentos da sua invasão da Ucrânia que o estava a fazer para “desnazificar” o país).

VLADIMIR PUTIN – RUSIA_vectorized by Antonio Marín Segovia is licensed under CC BY-NC-ND 2.0 / Flickr

Os republicanos prefeririam, é claro, viver num universo  modelado pela Segunda Emenda de uma maneira selvagem, tal como é  interpretada pela National Rifle Association, e levado à prática por jovens loucos de 18 anos com armamento de tipo militar legalmente adquirido. Entretanto, os Democratas da administração Biden  vivem  agora numa nova (ou talvez muito antiga) versão da Guerra Fria e, no entanto, acontece que até a Rússia já não é suficientemente uma cópia do que era   para os fazer felizes. Joe Biden e a sua tripulação também estão a trabalhar arduamente para recriar uma dinâmica semelhante com a China. Acrescente-se a isso um Supremo Tribunal diferente de qualquer outro em memória recente e um Congresso em total impasse  (a menos que se trate de tirarem mais  dinheiro para armar   os ucranianos), e eu poderia continuar.

Pior ainda, estou a compreender porque é que tão poucos de nós queremos realmente viver  no planeta em que acontece estarmos a habitar  neste momento. Sabem, este que está a aquecer até à beira de… bem, quem sabe realmente o quê; este é o planeta  em que uma figura que não fazia parte da nossa  anterior história política, um bilionário vigarista com um dom de autocomiseração, poderia possivelmente voltar a ocupar a Casa Branca e a presidir a um país e a um sistema numa tal desordem que em tempos teria sido inimaginável. Mas deixem-me parar aqui e deixar-vos  com  Andrew Bacevich para analisar   o momento da história em que realmente estamos a viver.  Tom

***

A PALAVRA F (A OUTRA), por ANDREW BACEVICH – reutilizada e mal aplicada

 

Timothy Snyder, Professor de História com a cátedra Levin na Universidade de Yale, é um erudito de raro brilhantismo.  O seu livro de 2010 Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin  relata com detalhes comoventes como  foi a colaboração havida  entre o Terceiro Reich e a União Soviética  de que resultou a morte de milhões de inocentes.  Em qualquer estante reservada a relatos que revelem verdades essenciais do nosso passado, Bloodlands merece um lugar de grande destaque.  É  de facto um livro excecional.

Eu apenas desejo que o Professor Snyder se cinja à História.

Segundo um  velho ditado, o passado é um país estrangeiro.  Mesmo assim, as semelhanças entre então e agora interessam mais frequentemente aos historiadores do que as diferenças.  Poucos, ao que parece, conseguem resistir à tentação de fazer do seu particular conhecimento do passado um  veículo para interpretar o aqui e agora, mesmo quando isso significa normalmente simplificar e distorcer o presente.  Os historiadores da Europa do século XX, entre eles Snyder, parecem particularmente suscetíveis a esta tentação.  A opinião de Snyder em meados de Maio, no New York Times, oferece um exemplo disso mesmo.  “Nós devemos dizê-lo”, o título aconselha. “A Rússia é fascista”.

A introdução da palavra F em qualquer conversa destina-se a conotar a seriedade moral.  No entanto, com demasiada frequência, tal como acontece com o seu primo direito, o termo “genocídio“, esta palavra serve menos para esclarecer   do que para transmitir uma sensação de repugnância combinada com condenação. É o caso aqui.

Representar Vladimir Putin como um fascista coloca a Rússia de hoje na mesma categoria que os regimes totalitários assassinos que Snyder acusa em Bloodlands. Ao fazê-lo, de facto intima os Estados Unidos e os seus aliados da NATO  a lançarem algo semelhante à guerra total na Europa. Em suma, este país não deveria entrar em  mais compromissos  com o mal que a Rússia atual representa do que com o mal que representaram a Alemanha de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial ou a União Soviética de Estaline durante a Guerra Fria.

Para Snyder, portanto, o trabalho imediatamente em mãos não é apenas o trabalho honroso de ajudar os ucranianos a defenderem-se a si próprios.  A verdadeira tarefa – a obrigação, mesmo – é derrotar decisivamente a Rússia, assegurando com isso nada menos do que a própria sobrevivência da democracia.  “Como na década de 1930”, escreve ele, “a democracia está em retirada em todo o mundo e os fascistas moveram-se para fazer a guerra aos seus vizinhos”.

Como consequência, “se a Rússia vencer na Ucrânia”, insiste ele, o resultado não será simplesmente a destruição brutal de uma democracia imperfeita, mas “uma desmoralização para as democracias em todo o  mundo”. Uma vitória do Kremlin poderia afirmar  “que a força faz a lei, que a razão é para os perdedores, que as democracias devem falhar”.  Se a Rússia se mantém, por outras palavras, “os fascistas de todo o mundo serão consolados”.  E “se a Ucrânia não ganhar” – e não sair ganhadora, isto implica, implica Snyder,  uma mudança de regime em Moscovo – então “podemos esperar décadas de escuridão”.

Assim, mais uma vez, tal como na década de 1930, é tempo de escolher um dos lados. Parafraseando um presidente americano recente, (Bush filho)  ou está connosco ou está com os fascistas.

A Quem Está a Chamar Fascista?

Permita-me confessar que em tempos fui suscetível a este tipo de pensamento binário como um princípio organizador da política global. Cresci durante a Guerra Fria, quando a bipolaridade – um Mundo Livre liderado pelos EUA contra um bloco comunista controlado pelos soviéticos – ofereceu um quadro conceptual que qualquer adolescente patriótico poderia compreender e aceitar.  Enfatizando a clareza em detrimento da precisão empírica, tal abordagem de “nós contra eles” permitia pouco espaço para nuances.  E, como aconteceu, os americanos pagaram caro pelos juízos errados que se seguiram devido precisamente a esse pensamento, sendo a guerra desastrosa no Vietname um exemplo especialmente vívido.  Em última análise, é claro, o nosso país “ganhou” de facto a Guerra Fria, mesmo que ainda tenhamos de contabilizar os custos cumulativos da vitória.

Com uma ampla demonstração de indignação moral, o Professor Snyder parece estar empenhado em ressuscitar esse quadro.  Ao darem luz verde a esta peça para as suas páginas de opinião, os editores do New York Times dotaram-na implicitamente de uma respeitabilidade aprovada pelo sistema dominante. Desta forma, as políticas da Europa que ficaram para a história na década de 1930 encontram renovada relevância como fonte de ensinamentos  para o momento presente.

A forma como os americanos responderam então oferece um modelo de como os Estados Unidos deveriam responder hoje, embora com um sentido de urgência e não de arrastamento de pés que caracterizava a política dos EUA antes de Pearl Harbor.  Dito de forma simples, parar o fascismo emergiu mais uma vez como um imperativo que ultrapassa todos os outros em importância.  A crise climática?  Isso pode certamente esperar.  Problemas na fronteira com o México?  Fale comigo mais tarde.  Uma pandemia sem fim?  Basta arregaçarem as mangas e seguirem as ordens do Dr. Fauci.  Massacres recorrentes nas escolas do nosso país?  Culpe a Segunda Emenda.

O “A Rússia é fascista” oferece uma rejeição  definitiva ao reavivamento promovido pelo “América Primeiro” do Trump. É um apelo à ação, com uma cruzada antifascista em perspectiva para servir de antídoto para os reveses, desilusões e sensação de declínio que têm assombrado o establishment  da política externa de Washington desde que os Estados Unidos invadiram o Afeganistão e o Iraque após o 11 de Setembro.

Num sentido mais amplo, definir o fascismo como alvo pode preencher um vácuo que data do fim da Guerra Fria, um vácuo que a subsequente Guerra Global contra o Terrorismo nunca abordou adequadamente. Finalmente, a América tem novamente um Inimigo Digno do Nome.  A agressão criminosa de Vladimir Putin à Ucrânia parece validar a ideia de que a “competição das grandes potências” define a ordem mundial emergente, mesmo se se incluir a Rússia de Putin nas fileiras das grandes potências legítimas requeira uma definição claramente elástica desse termo.  No entanto, dadas as complicações que os Estados Unidos encontraram ao enfrentar Saddam Hussein, Slobodan Milošević, Osama bin Laden, Muammar Gaddafi, e diversos outros vilões, uma rivalidade com a Rússia parece não só familiar e simples de entender, mas quase que bem-vinda.

No que respeita a esta questão, a questão imediatamente em mãos é tão psicológica como geopolítica.  Afinal, se o decorrer  da guerra na Ucrânia deixou uma coisa bem clara, é que as forças armadas russas, fortemente armadas, mas surpreendentemente ineptas, não representam mais do que uma insignificante ameaça convencional para o resto da Europa.  A eficácia militar exige mais do que uma capacidade de reduzir as cidades a escombros.  Assim, se Putin representa a última reencarnação de Adolf Hitler, é um Hitler sobrecarregado com as legiões desajeitadas  de Benito Mussolini.

No entanto, a declaração da Rússia como sendo a encarnação do fascismo leva a que se revejam o que está em jogo. Para o Professor Snyder, a falta de destreza militar da Rússia importa menos do que a visão distorcida do mundo de Vladimir Putin.  Centrada num “culto dos mortos”, num “mito de uma era de ouro passada” e numa crença na “violência curativa” da guerra, a perspetiva de Putin expressa a essência do fascismo ao estilo russo.  Expor essa perspetiva como falsa é uma condição prévia para a destruição da mística de Putin.  Só então, escreve Snyder, é que os mitos que ele perpetrou “cairão por terra”.

Isto, para o Professor Snyder e para muitos dos especialistas na Administração de Washington, descreve o que para eles são de facto os desafios que estão em jogo na Ucrânia.  Em vez de serem desafios meramente regionais, são nada menos do que desafios   cósmicos.  Vencer  Putin permitirá aos Estados Unidos renovar os seus próprios mitos manchados, ao mesmo tempo que esconde com toda a segurança a nossa própria santificação da violência como um instrumento de libertação.  A América será reposta no pináculo  do poder global.

Há, no entanto, pelo menos dois problemas com este cenário otimista. O primeiro relaciona-se com a nossa própria suscetibilidade ostensiva a uma variante caseira do fascismo, o segundo com etiquetar o Putinismo como uma ameaça existencial.  Ambos desviam a atenção de questões mais prementes que deveriam merecer a atenção do povo americano.

Às Barricadas?

Será Donald Trump um fascista?  A minha própria inclinação é vê-lo como uma fraude narcisista e um vigarista.  Dito isto, desde o momento em que ele emergiu como uma figura política importante, os críticos citaram a palavra f para o descrever.  Deixemos que o testemunho do colunista do New York Times, Paul Krugman, seja tomado como uma síntese  dos  comentários semelhantes apresentados  por tantos outros.  Donald Trump “é de facto um fascista”, escreveu Krugman em Janeiro de 2021, “um autoritário disposto a usar a violência para alcançar os seus objetivos de um  nacionalismo racial”. Cabia obviamente aos americanos resistir-lhe como “o apaziguamento que foi o que nos trouxe até onde estamos. É necessário que isto pare, aqui e agora.”.

Embora o conselho de Krugman seja claro como o cristal, consideremos a possibilidade de que já seja demasiado tarde.  Que Trump ou algum clone de Trump possa  ganhar a presidência em 2024 é uma hipótese que se perspetiva como bem real, ainda que deprimente.  De facto, os seus apoiantes podem muito bem ganhar o controlo do Congresso (e de vários estados) também nas eleições [intercalares]  deste ano.

Se isso ocorrer, será que Krugman (e Snyder) irá considerar  que os Estados Unidos seguiram a Rússia ao sucumbir ao fascismo do estilo de 1930?  Em caso afirmativo, com que implicações para a legitimidade da ordem política existente?  Será que a resistência ao Trumpismo se tornará então uma obrigação cívica para os cidadãos justos que pretendem exercer o seu próprio direito de terem armas pessoais?  A referência de Paul Krugman aos perigos de um maior apaziguamento sugeriria que a resposta a essa pergunta deve ser sim.  Afinal de contas, no léxico político americano poucos pecados são mais hediondos do que o apaziguamento.

No entanto, por esse caminho encontra-se  a revolução, a contrarrevolução, e o fim da república americana.  Expressar  imprudentemente  acusações de fascismo poderia abrir inadvertidamente o caminho para um tal resultado.

Como um epíteto, o fascismo mantém uma atração  emocional considerável.  Como termo de análise aplicado à política americana contemporânea, no entanto, possui uma  utilidade limitada.  Falar custa pouco mas falar sem fundamento  também pode ser perigosamente subversivo – uma preocupação igualmente aplicável aos que lançam  acusações absurdas sobre comunistas e socialistas que invadem os corredores do governo em Washington.

A verdade é que não vivemos na década de 1930.  O nosso mundo não é o mundo daquele tempo.  Seja para o bem ou para o mal, os Estados Unidos dessa época já desapareceram há muito tempo.

A afirmação do Professor Snyder de que “a democracia está em recuo em todo o mundo” representa um modelo de história que tem duas faces, frente e verso.  De facto, a história tem múltiplas faces  e move-se em várias direções, muitas delas imprevistas e sem relação com as perspetivas da democracia. Até agora, pelo menos, não existe nenhum algoritmo para prever para onde irá a seguir.

O que ameaça os Estados Unidos hoje em dia não é o fascismo, mas a contínua erosão de um consenso político interno sem o qual a governação democrática se torna difícil, se não mesmo impossível.  Surpreendentemente, poucos políticos parecem dispostos a reconhecer a extensão desse perigo. Em vez disso, paixões desencadeadas por questões como a teoria racial crítica ou a garantia de acesso a espingardas de assalto assumem o centro do palco, reduzindo o espaço deixado para a compreensão  e o estabelecimento de acordos mútuos.

Considerando nesta perspetiva, embarcar numa cruzada antifascista nas franjas orientais da Europa não é suscetível de restaurar a sensação do bem comum em casa.  Fazer a guerra em nome da democracia ucraniana é mais suscetível de servir de diversão, uma desculpa para evitar assuntos de relevância mais imediata para a saúde em declínio da nossa democracia. A este respeito, as dezenas de milhares de milhões de dólares que um Congresso, de resto bloqueado, se apropriou para armar a Ucrânia, falam muito sobre as verdadeiras prioridades políticas da nação.

Os ucranianos precisam, querem e merecem o apoio dos EUA para expulsar  o invasor russo.  Mas o destino da experiência americana não será determinado em Kiev.  Será decidido aqui mesmo, nos Estados Unidos da América. Quando Joe Biden anunciou pela primeira vez a sua intenção de substituir  Donald Trump no cargo, ele pareceu compreender isso.  Apresentou-se como alguém com quem os eleitores podiam contar para unir os americanos e inverter o nosso declínio muito  óbvio.  Tendo este país chegado a um “ponto de inflexão”, prometeu guiá-lo por “um caminho de esperança e luz”, permitindo-lhe “sarar, renascer e unir-se”.

A algum nível,   Biden estava a ser sincero ao pronunciar estas palavras  o que implicava que a reparação da desordem interna   que Trump tinha fomentado deveria prioritariamente receber a atenção devida. Mas a presidência de Biden não trouxe a cura, o renascimento e a unidade – longe disso.  Agora, perante a perspetiva de grandes perdas nas eleições para o congresso deste ano e muitas dúvidas na disputa presidencial de 2024, Biden parece estar empenhado em empregar uma tática familiar num esforço desesperado para salvaguardar o seu futuro político: usar problemas no estrangeiro para desviar a atenção dos enormes desafios que em casa  tem pela frente.

A Rússia coloca um desses problemas, mesmo se for um daqueles em que os decisores políticos e os especialistas se juntam a exagerá-lo, como se a má conduta criminosa conotasse automaticamente uma ameaça existencial.  Um problema bem mais importante se perfila no horizonte: a China.  Dada uma definição suficientemente vaga, também ela pode ser descrita como fascista. Assim, a atitude de confronto da administração Biden em relação à Rússia encontra a sua contrapartida numa política igualmente dura em relação à China.

Minimizando  a realidade da interdependência mútua sino-americana e o imperativo da cooperação em questões de interesse comum tais como as alterações climáticas, a administração parece inflexível em conjurar mais um eixo do mal como uma lógica para uma nova vaga de flexões musculares dos EUA.  Mais uma vez, tal como quando o 11 de Setembro forneceu uma lógica espúria para a conceção do anterior eixo  do Mal (para não falar da invasão do Afeganistão e depois do Iraque), o desejo de ignorar a complexidade e de querer minimizar o risco é tristemente evidente.

Em Washington, a convicção de que a força militar aplicada adequadamente reporá os Estados Unidos numa posição de primazia global encontrou tacitamente renovado favorecimento.  As lições ostensivas de um conflito em curso, no qual as forças norte-americanas estão a participar por procuração, substituíram quaisquer lições da recém-concluída Guerra do Afeganistão, em que os Estados Unidos falharam redondamente.  Raramente a memória seletiva do aparelho de segurança nacional tem estado tão claramente em exposição.  Muito do mesmo se pode dizer do Congresso, onde um entusiasmo cego o leva a apoiar  a Guerra da Ucrânia sem fazer perguntas, e tem dado uma desculpa oportuna para simplesmente apagar todo o desastre de 20 anos no Afeganistão.

A verdade é que nem o “fascismo” russo nem a sua variante chinesa representam um perigo significativo para a democracia americana, que na realidade está ameaçada por dentro.  Joe Biden pareceu em certa altura  compreender e querer enfrentar esta realidade, mesmo que agora ache politicamente conveniente fingir o contrário.

A nossa salvação não reside em andar a utilizar a palavra-f para justificar mais guerras, mas em redescobrir um léxico diferente.  Para começar, considere este preceito, ao qual os americanos foram outrora dedicados:  A caridade começa em casa.  Caridade, tal como  tolerância, compaixão, generosidade e compreensão: é por aí que a preservação da nossa democracia deve começar.

Nota:
“Neste texto Andrew Basevich procura evidenciar que o termo fascismo é utilizado por Snyder de uma maneira que não tem muito a ver com o sistema político assim designado, que esteve em vigor em Itália, Espanha, Portugal, etc. nos anos 30 do século passado. Designadamente refere ser errado classificar o regime em vigor na Rússia como tendo semelhanças significativas com aqueles países da Europa onde vigorou o fascismo. Diz também ser pouco provável que tanto a Rússia ou a China sejam sentidas na América como ameaças reais. O uso da palavra fascismo, à semelhança da palavra f…, será suposto desencadear reacções de repugnância e condenação, sem se olhar ao que realmente se passa com o que ou com quem vai o alvo do insulto.”

 

Copyright 2022 Andrew Bacevich

Featured image: VLADIMIR PUTIN – RUSIA_vectorized by Antonio Marín Segovia is licensed under CC BY-NC-ND 2.0 / Flickr

Follow TomDispatch on Twitter and join us on Facebook. Check out the newest Dispatch Books, John Feffer’s new dystopian novel, Songlands (the final one in his Splinterlands series), Beverly Gologorsky’s novel Every Body Has a Story, and Tom Engelhardt’s A Nation Unmade by War, as well as Alfred McCoy’s In the Shadows of the American Century: The Rise and Decline of U.S. Global Power and John Dower’s The Violent American Century: War and Terror Since World War II.

Andrew Bacevich, a TomDispatch regular, is president of the Quincy Institute for Responsible Statecraft. His most recent book is After the Apocalypse: America’s Role in a World Transformed.

 

 

 

 

 

 

The F-Word (The Other One) – TomDispatch.com

Leave a Reply